segunda-feira, 5 de março de 2012

O meu pé esquerdo




 
Para melhor compreender a temática relativa à paralisia cerebral colocamos no blogue o filme sugerido pelo professor Nuno Mateus que assistimos na unidade curricular de IPM.
Christy Brown nasceu em 5 de junho de 1932 e faleceu em 7 de setembro de 1981. De nacionalidade irlandesa, foi escritor, artista plástico e poeta ,autor do livro que se chama My Left Foot (Meu Pé Esquerdo) e que deu origem ao filme de mesmo nome. Casou-se com sua enfermeira, Mary Car, em 5 de outubro de 1972.

Christy Brown é um quadriplégico nascido no seio de uma familia pobre irlandesa, com 13 irmãos. A sua mãe, Ms.Brown é a única a recolheer-lhe qualidades como inteligência e humanidade, todos os outros o cosideram um inútil...Christy cresce e torna-se um escritor que utiliza o seu único membro funcional, o seu pé esquerdo, para escrever

Pai e filho fazem o Ironman Hawaii juntos. Com a particularidade de que o pai leva  filho que tem paralisia cerebral.  Um tributo ao amor. Vale a pena ver!




Etiologia

De acordo com a localização das lesões e zonas do cérebro afetadas, as manifestações podem ser diferentes, portanto a etiologia da paralisia cerebral é múltipla. Segundo Santos & Sanches (2004) “as causas que originam uma lesão do sistema nervoso central nem sempre são fáceis de identificar, no entanto o seu conhecimento reveste-se da maior importância em termos de prevenção e intervenção”.
Segundo a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC) em cada 100 bebés que nascem, 2 podem ser afetados por paralisia cerebral.
A paralisia cerebral não é hereditária e não se deve, geralmente, a qualquer deficiência apresentada pelos pais. E qualquer lesão provocada no cérebro pode resultar em paralisia cerebral.
Basil citado por Santos & Sanches (2004) defende que a lesão no cérebro pode ocorrer em três fases da vida do indivíduo e que pode ser devido a causas pré-natais, peri-natais e pós-natais.
As causas pré-natais decorrem desde a conceção até ao início do trabalho de parto. Entre as causas pré-natais evidenciam-se (Santos & Sanches, 2004):
*      doença infecciosa da mãe causada por vírus como a rubéola, sarampo, sífilis, herpes e que dão origem a malformações cerebrais, cardíacas, auditivas, oculares, quando contraídas nos primeiros três meses de gestação;
*      intoxicações devido a produtos tóxicos ou medicamentos;
*      exposição a radiações;
*      doenças como a meningite ou toxoplasmose;
*      anóxias que são provocadas por dificuldades de oxigenação do feto, devido a insuficiência cardíaca da mãe, hipertensão, anemia, circulação sanguínea deficiente, incapacidade dos tecidos do feto em captar oxigénio;
*      doenças metabólicas congénitas, como a galactosemia e a fenilcetonúria, que se expressam quando o feto começa a ingerir alimentos que não conseguem metabolizar, começando a existir a acumulação de substâncias tóxicas no cérebro, ocorrendo lesão;
*      incompatibilidade sanguínea, ou seja no fator Rh, nos casos em que crianças Rh positivas são filhas de mães Rh negativas, que já tiveram um contato com sangue Rh positivo, existindo uma destruição dos glóbulos vermelhos da criança, o que origina um excesso de bilirrubina que vai lesar as células do cérebro.
São ainda consideradas causas pré-natais, o alcoolismo, o tabagismo, traumatismos (direto no abdómem ou queda sentada da gestante) e doenças crónicas, anemia grave, desnutrição e idade da mãe e falta de cuidados pré-natais adequados (Rotta, 2002).

As causas peri-natais decorrem durante o parto e pouco tempo após o nascimento. As causas peri-natais podem ser (Santos & Sanches, 2004):
*      situações decorrentes da insuficiência de oxigénio no sangue (anóxia) ou asfixia relacionadas com obstrução do cordão umbilical, ou pela administração de anestesia de forma inadequada;
*      falta de oxigenação da criança devido a separação prematura da placenta;
*      trabalhos de parto demasiado prolongados ou demasiado abruptos (traumatismos de parto);
*      prematuridade do feto ou a hipermaturação;
*      baixo peso ao nascer.

Rotta (2002) considera ainda como causas peri-natais a idade da mãe, a desproporção céfalo-pélvica, anomalias da placenta, anomalias do cordão umbilical, anomalias da contração uterina, o parto instrumental, anomalias de posição, ou seja, posicionamento inadequado do bebé no momento do parto.

As causas pós-natais podem ocorrer nos primeiros três anos de vida da criança em que o sistema nervoso se encontra em desenvolvimento e podem ser causadas por:
*      meningite ou encefalite;
*      traumatismos crânio encefálicos;
*      distúrbios metabólicos (hipoglicémia, hipocalcemia, hipomagnesemia);
*      acidentes anestésicos;
*      intoxicações por produtos químicos ou drogas e desidratações (Santos & Sanches, 2004).

São ainda causas pós natais de paralisia cerebral:
*      incompatibilidade sanguínea materno-fetal; 
*      processos vasculares (tromboflebites, embolias e hemorragias);
*       desnutricação da criança que interfere de forma crucial no desenvolvimento do seu  cérebro (Rotta, 2002).

Nielsen (1999, p. 96) considera que é “também possível que um indivíduo apresente paralisia cerebral adquirida resultante de traumatismos cranianos. Acidentes com veículos motorizados, quedas ou abuso de crianças que resultem em traumatismos podem igualmente estar na origem deste tipo de paralisia, assim como também o podem estar as infecções cerebrais”.

Caraterísticas da Paralisia Cerebral

Dependendo da zona do cérebro que comporta a lesão e da extensão das lesões do sistema nervoso central, podem verificar-se uma ou mais das características seguintes na criança/jovem (Nielsen, 1999):

* espasmos,
* problemas a nível de tonicidade muscular;
* movimentos involuntários;
* problemas de postura e movimento;
* convulsões;
* anomalias no campo das sensações e da percepção;
* perturbações visuais;
* problemas na audição;
* problemas de linguagem e fala;
* deficiência mental.

De salientar que estas caraterísticas não têm obrigatoriamente de estar presentes na sua globalidade em todos os casos da paralisia cerebral. Em alguns casos apenas se pode verificar uma ligeira perturbação que poderá não ser detetada pelo docente.

PROBLEMAS ASSOCIADOS À PARALISIA CEREBRAL

Segundo a associação de Paralisia cerebral de Coimbra, para além das perturbações motoras, podem estar presentes na criança/jovem com paralisia cerebral outras perturbações como:
*      atraso cognitivo (pode estar associado, mas não é uma regra);
*      epilepsia;
*      dificuldades de aprendizagem;
*      défice de atenção;
*      perturbações nutricionais (comum nas formas tetraparéticas);
*      distúrbios psicológicos e comportamentais;
*       infeções respiratórias (comum nas formas tetraparéticas).

Esta associação menciona, que as alterações motoras da paralisia cerebral aumentam ainda, o risco de patologia ortopédica secundária.

Por que Heloísa?

Este livro foi escrito a partir da história real de uma menina que tem paralisia cerebral e nos faz pensar na deficiência do ponto de vista da inclusão, numa abordagem que considera o ser humano integralmente e o seu direito intrínseco a uma vida plena.

"Mas, afinal, tem hora certa para sorrir, sentar e andar? E aquele braço e aquela mão? Não sabiam obedecer? A mãe, vendo Heloísa assim, toda atrapalhada, ficava triste como quê. Mas pensava: Se eu ficar borocoxô, quem vai ensinar a ela que a vida é do balacobaco?"

In Soares, C. (2007). Por que Heloísa?. Companhia das Letras.

Paralisia Cerebral

O conceito paralisia cerebral tem sido utilizado para denominar um conjunto de transtornos que têm em comum a existência de uma disfunção motora, originada por uma lesão encefálica, ocorrida no período pré-natal, peri-natal ou pós-natal. É um transtorno que apesar de permanente, não evolui com o tempo.
A primeira definição de paralisia cerebral é datada de 1843 e foi proposta pelo Dr. William Little (Santos & Sanches, 2004).
Nos finais do século XIX, Freud sugeriu a expressão paralisia cerebral, (Rotta, 2002) e determinou uma distinção entre paralisia congénita e paralisia adquirida, enfatizando «desenvolvimento intra-uterino» ao invés de trauma no processo de nascimento (Nielsen, 1999). Mais tarde Phelps, consagrou esta expressão, ao referir-se a um grupo de crianças que apresentavam perturbações motoras mais ou menos severos devido a lesão no sistema nervoso central. No entanto, só depois da II Guerra Mundial é que se desenvolveu a investigação nesta área (Strenfiel citado por Nielsen, 1999).
Muitos são os autores que têm definido Paralisia Cerebral ao longo dos anos.
Segundo a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral (APPC), o conceito paralisia cerebral é uma perturbação do controlo da postura e movimento que resulta de uma lesão cerebral que afeta o cérebro em período de desenvolvimento.
Nielsen (1999, p.95) considera que a paralisia cerebral “engloba um conjunto de desordens caracterizadas por disfunções de caráter neurológico e muscular que afetam a mobilidade e o controlo da musculatura. O termo cerebral reporta-se às funções do cérebro e o termo paralisia às desordens de movimento ou de postura”. Esta autora refere que “a paralisia cerebral não é contagiosa e só muito raramente está associada a uma condição hereditária. Dado que as lesões cerebrais não se agravam com o tempo, a paralisia cerebral não é progressiva e não constitui causa primária de morte.” (p.97).
Já Bleck (1987) define paralisia cerebral como um distúrbio do controlo do músculo e postura resultante dum mau funcionamento do córtex motor do cérebro (cit. por Cruz, 2009).
Para Cahuzac (1985) a paralisia cerebral é “uma desordem permanente mas não imutável da postura e do movimento, que se deve a uma disfunção do cérebro antes que o seu crescimento e o seu desenvolvimento estejam completos” (cit. por Santos & Sanches, 2004).
As autoras Santos & Sanches (2004) definem paralisia cerebral como uma desordem permanente, não progressiva, em que a perturbação motora é a predominante, podendo não afetar a parte cognitiva.
Sendo assim, entendemos que os autores consideram a paralisia cerebral como um transtorno, um distúrbio, que não evolui, mas é permanente ao logo da vida do indivíduo.
Não há dois casos semelhantes. Algumas crianças possuem perturbações ligeiras, quase imperceptíveis, que as tornam desajeitadass a falar, andar ou usar as mãos. Outras possuem perturbações mais severas tornando-se incapacitantes ao nível motor, como impossibilidade da criança ou jovem segurar a cabeça, realizar movimentos seletivos ao nível dos membros inferiores e superiores, associando-se com frequência a transtornos epiléticos, um atraso cognitivo severo e ainda ausência de autonomia e expressão para a realização das atividades da vida diária. Entre estes dois extremos existem os casos mais diversos.